27 de maio de 2012

MARGARIDAS

















Trago dentro em mim um corpo estranho
De toda uma Era a gritar em meu ventre.
Ouço todos os sons produzidos nas entranhas
De todas as mulheres devastadas, inocentes.


Eu carrego em mim
Todos os estupros,
Todos os abortos,
Todos os silêncios,
Todos os castigos,
Toda a servidão:
Toda a dor em vão.

Há em mim
O berro de dor
Calado, mudo,
Fraco e infinito:
O grito surdo
Que vem do ventre
Da mãe do filho
Morto.

Há em mim
A lágrima única
Dos olhos já secos,
Cegos por túnicas
De uma escuridão
Sem passado,
Sem presente
E sem esperança.

Mas há em mim,
Mais do que tudo,
O poder e a bênção
De gerar, em meu ventre,
O mistério da Vida.
Há em mim a compreensão
Da amplitude de existir
E da magnitude de parir.

E tudo nasce de mim
Mesmo a morte, o fim,
Mesmo o mais íntegro,
Mesmo o mais covarde:
Todos saíram de mim.
A minha vitória,
A minha derrota,
O princípio de Tudo
Fui eu que pari.

Há em mim,
Apesar de tudo,
A entrega.
A força
Do Feminino
Está contida
No fazer das feridas
Um imenso jardim de margaridas

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