9 de setembro de 2013
o estado da rosa
[Kandinsky, Composição VI]
Eu me despeço de tudo quanto vejo
No momento mesmo em que vejo
Porque ao ver, tudo desaparece.
Tudo o que é, quando vejo, deixa de ser,
Passa a ser outra coisa:
E aquilo que vi já se perdeu no meu olhar.
Eu fecho os olhos tentando guardar
A lembrança da rosa, como eu vi,
Como se o estado da rosa fosse a rosa,
Sem saber que a rosa em si não é botão nem flor.
(É semente?)
Só os cegos podem possuir a rosa
Porque só podem conhecê-la,
Porque não podem enxergá-la.
E eles a possuem, ainda que secretamente.
E quando eu te vejo, quando eu te sinto,
Dentro de mim, eu fecho os olhos,
Tento ser cega, te conhecer,
Te possuir.
E de repente eu vejo, não posso evitar.
Eu vejo e me despeço de ti.
Porque já te perdi no abismo de mim.
Eu digo adeus, todos os dias,
Eu rogo a Deus que te traga pra mim...
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