13 de fevereiro de 2012

sem nome
















Esqueci meu nome
num dos versos
que te escrevi.

Deixei-o
como quem deixa
um feixe
de cabelo
ou uma folha
de outono
entre as páginas
de um livro:
como recordação.

Esqueci-me
para que
tu te recordes
de mim.

Ainda que te lembres
apenas quando tiveres
o livro em tuas mãos,
sei que meu nome
cairá
das páginas
e pousará
na memória.

Eu, no entanto,
ficarei sem passado
e talvez tentarei
escrever-te mais versos,
tentando encontrar
o nome que perdi.

Eu vejo meu nome:
um desenho abstrato
nas paredes
(vidro)
do papel.
Eu tento compreendê-lo,
decodificá-lo,
mas tudo o que consigo ler
é o teu nome.

Não sei se sussurrado,
se cantado
ou mesmo berrado,
o nome traria meu passado
e calaria o presente.

Este presente,
este instante,
me devora
berrando palavras
sem sentido.
Eu tento organizá-las,
mas elas pulam
como peixes
fugidios.
E o que se torna
concreto
(o desenho)
em nada se parece
com aquele que vi
no vidro.

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Me chame
Que já não me lembro
Me chame
Que já esqueci
Me chame
Que já perdi todas as forças
Me chame
Que sem a tua boca
Me pronunciando
Não sei o que sou,
Nem o que deveria ser.
Me chame
Pra perto
Me chame:
Deserto.

Grande deserto,
em tuas dunas
o vento sopra
meu nome
que ecoa,
agora,
neste poema.

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Sem a tua voz
que chama,
o meu nome
não é mais
que um nome:
substantivo
concreto
derivado
do nada.
Origem:
devastada.