6 de outubro de 2011

Palavra














jogada assim, no branco cru

do papel em que escrevo

sei que nada significas,

sei que nada simbolizas,

sem os olhos meus.

olhos de analisar e traduzir,

olhos de decodificar,

esses que lanço a ti.

ah, Palavra

me digas tu,

que não me podes mentir

(posto que és reflexo de mim),

me digas como irei tirar de mim

toda e qualquer significação?

me digas como e de que matéria

seria feita a minha Poesia!

se mesmo as mais ricas rimas

por si sós, a nada enfeitam.

se mesmo a mais livre métrica

é sempre presa a tantos conceitos,

amarrada sempre a cegos nós de significação.

se a mais concreta forma é pura representação...

palavra,

arrebenta as cordas que atam minhas mãos.

liberta a minha alma para o que é vazio

de entendimento e associação.

me leva a esse não-lugar, tão sombrio...

(em que trem eu devo entrar?

em que verão irei chegar?

em que estação ficou esquecida

a Poesia?...)