3 de outubro de 2013

Nós

Eus vão se perdendo
No vão dos caminhos.

Eu vejo o jardim
de folhas verdes.
Não vejo meus passos,
não sei que rastros
percorro ou sigo.

Lembro dos meus olhos
e sei o caminho.
Entre bosques e alamedas
me persigo.

Eu nada diz.
Eu tudo indaga.

O eco das minhas angústias
me persegue.

Fujo.
Corro por entre as árvores.
Olho para trás
e vejo meus olhos
que nada dizem
(mas eu já nada indaga).

Corro. Morro.
Volto
para mim.
e quando me encontro
Junto os pedaços:
As folhas verdes
Do jardim.

Em mãos

Ouve
com os olhos.
Sei que os olhos têm
uma audição própria.
Espero que o som seja
o mesmo
ou se assemelhe
ao roçar da língua
no ouvido...

Veja,
é só uma questão
de ouvir de dentro.
Preste atenção
ao que te digo
e não ao som
do que digo

Eu contarei o segredo:
S E G R E D O

Quero contar
como contar
o segredo
e, assim,
desfazê-lo.
(que segredo
que se conta
deixa de sê-lo).

Pegue, tome
tenho medo
de perder
o que direi
ao dizê-lo.
Então (por isso)
vou escrevê-lo:



Tiro de Flecha

Gritou em meu peito
a liberdade.
Saltou da minha boca,
eu não ouvi.
Tiro de flecha
alcançou o espanto:
chorei,
mas parti.

9 de setembro de 2013

o estado da rosa


[Kandinsky, Composição VI]




Eu me despeço de tudo quanto vejo

No momento mesmo em que vejo

Porque ao ver, tudo desaparece.

Tudo o que é, quando vejo, deixa de ser,

Passa a ser outra coisa:

E aquilo que vi já se perdeu no meu olhar.



Eu fecho os olhos tentando guardar

A lembrança da rosa, como eu vi,

Como se o estado da rosa fosse a rosa,

Sem saber que a rosa em si não é botão nem flor.

(É semente?)



Só os cegos podem possuir a rosa

Porque só podem conhecê-la,

Porque não podem enxergá-la.

E eles a possuem, ainda que secretamente.



E quando eu te vejo, quando eu te sinto,

Dentro de mim, eu fecho os olhos,

Tento ser cega, te conhecer,

Te possuir.

E de repente eu vejo, não posso evitar.

Eu vejo e me despeço de ti.

Porque já te perdi no abismo de mim.

Eu digo adeus, todos os dias,

Eu rogo a Deus que te traga pra mim...